EUA acendem sinal de alerta sobre fertilizantes russos comprados pelo Brasil

Comitiva de senadores em Washington alerta que compras brasileiras de fertilizantes e diesel da Rússia podem sofrer sanções e afetar custos do agronegócio.

EUA acendem sinal de alerta sobre fertilizantes russos comprados pelo Brasil
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EUA acendem sinal de alerta sobre fertilizantes russos comprados pelo Brasil
 

Washington/Brasília, 30 de julho de 2025 — Senadores norte-americanos de ambos os partidos disseram à comitiva brasileira que visita Washington que consideram “sensível” a continuidade das importações de óleo diesel e, sobretudo, de fertilizantes vindos da Rússia. O tema, segundo a ex-ministra da Agricultura e hoje senadora Tereza Cristina (PP-MS), entrará no relatório oficial da missão parlamentar que tenta dissuadir os EUA de aplicar um tarifaço de 50 % contra exportações brasileiras. 

“Quem compra da Rússia dá munição para o país continuar a guerra na Ucrânia”, relataram diversos congressistas democratas e republicanos, contou Tereza Cristina aos jornalistas. 

A delegação de oito senadores — entre eles Esperidião Amin (PP-SC), Carlos Viana (PODE-MG) e Eliziane Gama (PSD-MA) — desembarcou nos EUA no fim de semana com a missão de abrir canais diplomáticos antes de a sobretaxa entrar em vigor em 1.º de agosto. Nenhum parlamentar “saiu do Brasil achando que ia negociar taxa”, mas sim “azeitar a relação” com o Congresso norte-americano, disse Amin.

Dependência brasileira em números

  • 1/3 da demanda total: em 2024 o Brasil cobriu cerca de 33 % de suas necessidades de adubo com US$ 3,7 bilhões em compras russas, tornando-se o maior mercado mundial para fertilizantes de Moscou; essas vendas representam 25 % da receita externa russa nesse setor. ReutersReuters

  • Diesel mais barato: o país também recorreu ao diesel russo com desconto para reduzir custos logísticos da safra.

Caso o Congresso dos EUA avance com um projeto de “sanções secundárias” — dispositivo que pune não apenas empresas russas, mas qualquer comprador que mantenha relações comerciais — especialistas temem rupturas no abastecimento latino-americano, com repercussões diretas sobre os custos de produção de soja, milho e algodão. Reuters

Riscos imediatos para o agronegócio

Impacto potencial Consequência para o produtor brasileiro
Suspensão de linhas de crédito em dólar Bancos norte-americanos podem bloquear cartas de crédito vinculadas a insumos russos.
Alta de 15 % a 40 % nos custos de K, P e N Alternativas (Canadá, Marrocos, Catar) exigem fretes mais caros e prêmios de risco.
Volatilidade cambial Maior demanda por hedge eleva custos de proteção no mercado futuro da B3.

 

Próximos passos da comitiva

  1. Concluir até sexta (1.º/8) uma agenda de encontros com os presidentes dos comitês de Relações Exteriores e Agricultura do Senado dos EUA.

  2. Entregar relatório ao Itamaraty destacando o “alerta geopolítico” sobre fertilizantes e recomendando diversificação de origens.

  3. Negociar, em paralelo, extensão de 90 dias para o início da sobretaxa, abrindo espaço a diálogo técnico sobre sanções.
     

O que observar nas próximas semanas

  • Movimento no Congresso norte-americano sobre projeto de lei que vincule sanções à procedência de insumos agrícolas.

  • Reação do governo brasileiro: plano de ação do Plano Nacional de Fertilizantes e conversas com o Canadá para ampliar quotas de potássio.

  • Mercado futuro em Chicago e na B3: spread entre fertilizantes CFR Brasil e hubs alternativos indicará a precificação de risco.

Por que importa!
Fertilizantes representam até 40 % do custo variável da soja e mais de 35 % do milho. Qualquer restrição ao principal fornecedor brasileiro pressiona margens, eleva a necessidade de hedge e pode reverberar em toda a cadeia do alimento ao biodiesel.